‘O Pequeno Príncipe’ e mais: obras clássicas ganham versão em cordel e estimulam novas leituras

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Foto: Ilustração de Vladimir Barros

Por meio de estética genuinamente nordestina, narrativas abraçam elementos da nossa cultura e estendem o alcance de trabalhos consagrados

Imagine um garotinho loiro, a pele tingida de sol, portando chapéu de cangaceiro e rodeado por cactos. Agora tente visualizar os planetas por onde ele passou em busca de respostas sobre os mistérios da vida, encontrando figuras tão curiosas quanto encantadoras.

Essa mescla de referências nordestinas com o enredo de uma das obras mais famosas da literatura universal pode ser encontrada no livro “O Pequeno Príncipe em cordel”. Relançada em edição revista pelo selo Yellowfante, do Grupo Autêntica, a obra foi finalista do Prêmio Jabuti em 2016 e agora estende o alcance para mais públicos.

CAPA O Pequeno principe Cordel 221121 min
Foto Reprodução: Divulgação

No centro do trabalho, a proposta de transpor para a Literatura de Cordel o universo criado pelo francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Para isso, o autor da nova versão, Josué Limeira, se vale da riqueza e exuberância de nossas paisagens e cultura a fim de homenagear a narrativa que faz parte da vida dele até hoje.

“É também um dos livros mais traduzidos do mundo. Faltava a linguagem do cordel ser incorporada nessa coletânea de idiomas”, observa o escritor pernambucano. Ao planejar a obra, Limeira percebeu estar diante de um momento sublime, necessitando trazer para a adaptação um toque clássico e armorial. Não fugir da essência do material-base foi regra imperiosa.

“O texto seguiria a simplicidade, beleza e alegria do cordel, e as ilustrações fariam correlações com personagens e símbolos da cultura nordestina – basta ver nosso ‘pequeno cabra da peste’ trazendo o chapéu do cangaço, as vestes do maracatu, a pele amorenada e os cabelos amarelados, típicos dos meninos da zona da mata de Pernambuco”, detalha.

Assim, tanto Josué quanto o ilustrador Vladimir Barros possuíam todos os elementos para construir o projeto de tal forma que ele não apenas captasse o âmago da história original quanto compusesse a roupagem popular oferecida pelo cordel.

Nos versos, por exemplo, trabalho e pesquisa aconteceram por meio do desenvolvimento de estrofes em sextilhas, procurando rimas que valorizassem cadência e narrativa, gerando na audiência um sentimento de integração entre o erudito e o popular.

Limeira descreve algumas das figuras presentes nas páginas: “O Pequeno Príncipe, nosso galego sarará; o desenhista, nosso vaqueiro; os passarinhos que levam o Pequeno Príncipe do asteroide B612 são nossas asas brancas, uma homenagem ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga; o vaidoso é nosso calunga do carnaval de Olinda, O Homem da Meia Noite, entre outros”.

Para todos os públicos

Conforme o poeta, devido à simplicidade literária e às ilustrações regionalizadas, “O Pequeno Príncipe em Cordel” trouxe encantamento e conseguiu diminuir a faixa etária dos leitores, levando a bela mensagem de Saint-Exupéry aos pequeninos.

A nova versão também inspirou peças teatrais e enredos de quadrilhas juninas; criou economia criativa no artesanato de barro do Alto de Moura, em Caruaru (PE); virou game elaborado por um grupo de estudantes do Recife; foi adotada por mais de 40 escolas no Brasil e, neste ano, compõe o enredo da escola de samba Tom Maior, do carnaval de São Paulo.

O projeto, assim, demonstra a capacidade da Literatura de Cordel de possuir novas vertentes, adaptando clássicos da literatura universal numa composição diferente dos tradicionais livretos – estes ligados às raízes da arte popular em versos.

O próprio Limeira, unido novamente ao ilustrador Vladimir Barros, também apresenta ao público “A Revolução dos Bichos em Cordel”. Igualmente publicado pela Yellowfante, o trabalho nasce a partir do texto original do inglês George Orwell (1903-1950).

Além das especificidades dos versos, as ilustrações têm como referência o construtivismo russo, influente movimento estético-político – refletindo a preocupação de Vladimir em associar os desenhos a referências históricas e culturais.

Josué, por fim, destaca alguns cordéis que adaptaram obras clássicas – levando em consideração tanto o livro em si como a dificuldade de transpor clássicos relativamente extensos para essa linguagem. Na lista, constam: “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego, adaptado por Janduhi Dantas; “O Guarani”, de José de Alencar, adaptado por Klévisson Viana; “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, adaptado por João Gomes de Sá; e “O Alienista”, de Machado de Assis, adaptado por Rouxinol do Rinaré.

“Esse é um movimento ascendente, já que estamos diante de tantos clássicos adaptados e comercializados. Porém, não é disruptivo. A dinâmica não veio para descontinuar os livretos de cordel – que, ao longo da história, fizeram com que nossa literatura fosse raiz. É apenas uma das vertentes que o cordel conseguiu produzir para uma vasta economia criativa, alcançando música, teatro, televisão, cinema, artesanato e a própria educação como elemento fundamental da oralidade, da pesquisa e do ensinamento”.

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