A síndrome aumenta os riscos para o bebê e para a mãe durante a gravidez e está entre as principais causas da mortalidade materna no Brasil

A pré-eclâmpsia é uma complicação da gravidez que se caracteriza por um quadro de hipertensão arterial que pode se iniciar após 20 semanas de gestação, associado a perda de proteínas na urina (chamada proteinúria) e/ou lesão de órgãos importantes, tais como fígado, rins, olhos, pulmões e cérebro.
Esta síndrome ocorre em cerca de 5% das gestações, sendo 75% dos casos leves e 25% graves. “Um bom pré-natal é fundamental tanto para a prevenção como para o diagnóstico e tratamento adequados e no tempo certo”, avaliam as médicas ginecologistas e obstetras Barbara Schwermann e Livia França.
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De acordo com Livia França, a hipertensão durante a gravidez traz riscos para a saúde da mulher de uma forma geral e não exclusivamente durante o ciclo gravidez e puerpério. “Entre esses riscos, a longo prazo está o maior risco cardiovascular (AVC, infarto etc.), bem como o de desenvolver demência.
O que é pré-eclâmpsia?
É uma das síndromes hipertensivas da gravidez. Tem como características a hipertensão (pressão arterial sistólica – conhecida como “máxima” – de 140mmHg ou mais e/ou pressão arterial diastólica – conhecida como “mínima” – de 90mmHg ou mais) e a presença de proteína na urina (proteinúria), explica Barbara Schwermann.
Pode ser acompanhada de sintomas (fortes dores de cabeça, tonturas, vômitos, inchaços nas mãos e nos pés etc.) e de alterações em órgãos como cérebro, fígado e rins. “Mesmo sem proteinúria, gestantes que desenvolvem pressão “máxima” ≥160 mmHg e/ou pressão “mínima” ≥110 mmHg ou outros critérios de gravidade são consideradas casos de pré-eclâmpsia”, acrescenta a médica.
Como saber se tenho pré-eclâmpsia?
Durante a gestação, especialmente no primeiro trimestre, é esperada uma tendência à queda fisiológica na pressão arterial. Tanto a “máxima” como a “mínima” devem estar mais baixas. “Portanto, qualquer aumento na pressão arterial, por menor que seja, é um sinal de alerta”, avalia Barbara Schwermann. “Arranjar desculpas para o aumento dos níveis ou recorrer a paliativos (chás, por exemplo) pode mascarar uma hipertensão crônica real. As doenças hipertensivas na gravidez estão entre as principais causas de mortalidade materna”, ressalta a ginecologista.
Livia França acrescenta: “Se durante a gestação a paciente apresentar aumento de pressão arterial, precisa consultar seu médico, que solicitará exames de urina, sangue e ultrassom com Doppler.
O que causa pré-eclâmpsia?
As causas dessa enfermidade ainda não foram completamente esclarecidas, de acordo com Livia França, mas parece ser causada por problemas no desenvolvimento dos vasos sanguíneos da placenta.
Os estudos explicam que essa condição é de fundo inflamatório e vascular. No sangue existem proteínas pró-angiogênicas e antiangiogênicas, que interferem diretamente nos vasos sanguíneos. “As alterações dessas proteínas durante a gravidez podem levar à contração dos vasos da placenta e do útero, diminuindo a circulação do sangue para a placenta, que ficará malnutrida e sofrerá um estresse oxidativo, um processo inflamatório, produzindo substâncias que interferem na pressão da gestante, na função dos rim e do fígado e em todo o processo de coagulação e circulação”, adiciona a ginecologista e obstetra.
Ela também ocorre, com mais frequência, conforme Barbara Schwermann, em mulheres que já têm hipertensão arterial ou uma doença vascular, diabetes anterior ou que surja durante a gravidez (diabetes gestacional), histórico familiar de pré-eclâmpsia, pré-eclâmpsia em uma gravidez anterior, estão grávidas de dois ou mais fetos, obesas ou que, ainda, apresentem um distúrbio de coagulação como, por exemplo, a síndrome do anticorpo antifosfolipídeo.
Como evitar pré-eclâmpsia na segunda gravidez?
Lívia França avalia que não existe um método garantido para evitar esta condição. “O melhor jeito é ser acompanhada por pré-natal cuidadoso e avaliar a pressão arterial, para identificá-la, o mais cedo possível a doença, no caso dela surgir”, pontua
De acordo com Bárbara Schwermann, a mulher deve cultivar os seguintes hábitos, “desde antes de engravidar, durante toda a gravidez e depois do parto”:
-Ter uma alimentação equilibrada, evitando o consumo de alimentos ultraprocessados (que têm elevado teor de sódio, gorduras saturadas, conservantes);
-Perder peso antes de engravidar, caso seja obesa ou tenha excesso de peso;
-Parar de fumar;
-Dormir o número adequado de horas;
-Praticar exercício físico regularmente.
Existem medicamentos que podem reduzir (mas, infelizmente, não evitar completamente) a chance de ter novamente a pré-eclâmpsia. “Esses medicamentos devem ser usados, orientados pelo médico, mesmo numa primeira gestação, na presença de fatores de risco”, frisa Lívia França.
Qual exame detecta pré-eclâmpsia?
Não é um exame em específico, mas sim um conjunto de exames, explica Bárbara Schwermann:
-Medição da pressão arterial;
-Exames de sangue para verificar plaquetas, ácido úrico, função hepática e renal;
-Exames de urina para detectar proteinúria;
-Ultrassom fetal com Doppler para avaliar o bebê e as artérias uterinas;
-Deve-se fazer o rastreio por fatores de risco ou usando o algoritmo da Fetal Medicine Foundation, que inclui múltiplos marcadores e histórico.
Para avaliar o bebê, segundo Livia França, podem ser realizados cardiotocografia, ultrassom e Doppler obstétrico, incluindo perfil biofísico fetal, quando disponível. “Esses exames deverão ser repetidos numa frequência que depende se a mulher está internada ou fazendo acompanhamento em consultório, tem fatores de gravidade ou não, mas podem chegar a ser feitos semanalmente e até mesmo diariamente, em casos graves”, pontua, acrescentando que “os resultados desses testes ajudarão o médico a decidir se o parto do bebê precisa ser realizado imediatamente ou não”.
Quem já teve pré-eclâmpsia pode engravidar de novo?
Pode. “E como os riscos de ter novamente pré-eclâmpsia já são conhecidos, é importante consultar o pré-natalista e ter cuidados como controlar os níveis de pressão arterial e de glicemia, em caso da existência de hipertensão ou de diabetes previamente à concepção”, diz Bárbara Schwermann.
A médica Livia França salienta: “Paciente com pré-eclâmpsia pode ter parto normal, na maior parte das vezes, após avaliação rigorosa de mãe e bebê, se ambos estiverem bem. Mesmo em casos graves, de maneira geral é inclusive preferível evitar uma cirurgia nessas pacientes, já que elas têm mais risco de sangramento. Porém, se o parto precisar ocorrer antes da mulher entrar em trabalho de parto, pode ser necessário a indução de parto. Em casos mais graves, como numa eclampsia, por exemplo, pode ser necessário uma cesárea”.