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sexta-feira, março 29, 2024

O que se sabe sobre as três mortes de pacientes nebulizados com hidroxicloroquina no Rio Grande do Sul

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o que se sabe sobre as tres mortes de pacientes nebulizados com hidroxicloroquina no rio grande do sul
Foto: Reprodução

O Hospital Nossa Senhora Aparecida (HNSA), de Camaquã, no Centro-Sul do Rio Grande do Sul, confirmou, na quarta-feira (24), a morte de três pacientes com coronavírus que foram nebulizados com uma solução de hidroxicloroquina.

Segundo a instituição, o procedimento foi administrado pela médica Eliane Scherer. O caso foi denunciado ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina. O G1 tenta contato com a médica, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

A seguir, veja o que se sabe do caso.

Qual foi a causa da morte?
O que diz a denúncia do hospital?
Quem está investigando o caso?
Como era feito o procedimento?
Justiça havia autorizado procedimento?
O que se sabe sobre a hidroxicloroquina?
Esse tipo de procedimento é seguro?
  1. Qual foi a causa da morte?

Segundo o diretor técnico do hospital, Tiago Bonilha, três dos quatro internados que fizeram nebulização com hidroxicloroquina apresentaram taquicardia ou arritmias após a nebulização com hidroxicloroquina. Ele acrescenta que não tem como estabelecer relação entre os óbitos e o tratamento.

“Não tenho como atribuir melhora, ou piora diretamente ao procedimento, mas de fato, o desfecho final de três pacientes submetidos a terapia foi óbito. Todos eles têm documentado em prontuário taquicardia ou arritmias algumas horas após receberem a nebulização. Dois deles já estavam em grave estado geral, com insuficiência respiratória em ventilação mecânica, e um deles estava estável recebendo oxigênio por máscara com boa evolução”, descreve Bonilha.

De acordo com hospital, os pacientes apresentaram reações após o tratamento.

“Não verifica que a nebulização contribuiu para melhorar o desfecho dos pacientes. Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos (de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento”, explica a instituição em nota.

  1. O que diz a denúncia do hospital?

De acordo com o Hospital Nossa Senhora Aparecida, a médica Eliane Scherer trabalha para uma empresa que presta serviço ao pronto-socorro da unidade, sem vínculo direto com a instituição. Na denúncia, o HNSA apresentou 17 infrações éticas supostamente cometidas pela médica.

Segundo o procurador jurídico do hospital, Maurício Rodrigues, a profissional foi afastada após entrar em conflito com a equipe de plantão, que se negou a fazer o procedimento em pacientes internados. Ao menos um paciente já tinha sido submetido ao tratamento indicado por Eliane.

“Em decorrência da negativa da equipe de enfermagem da aplicação do medicamento como ela [Eliane] gostaria, a médica começou, em alto tom, a falar e a assediar moralmente a equipe do hospital”, disse.

  1. Quem está investigando o caso?

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) abriu, na terça-feira (23), um expediente para apurar a conduta da médica Eliane Scherer. Segundo o MP, o caso será analisado pela promotora Fabiane Rios.

A denúncia foi feita também ao Conselho Regional de Medicina, que deve abrir uma sindicância. Os processos que correm no Cremers são sigilosos.

“O que podem dizer é que se foi feita denúncia, ela será investigada, pois todas que chegam no Conselho são averiguadas”, afirma o órgão.

De acordo com o Cremers, se as infrações da denúncia forem confirmadas, a médica pode sofrer punições como advertência confidencial, censura confidencial ou pública, suspensão por 30 dias ou cassação definitiva do registro. Se não forem constatadas irregularidades, o processo é arquivado.

A Polícia Civil informou que nenhum familiar registrou ocorrência, mas que também deve investigar o caso.

  1. Como era feito o procedimento?

Segundo o hospital, o procedimento adotado pela médica consistia na diluição de hidroxicloroquina em soro fisiológico, aplicada em uma nebulização. A instituição informou que a solução era preparada pela própria profissional em seringas, sem consentimento dos farmacêuticos da unidade.

  1. Justiça havia autorizado procedimento?

Não há confirmação sobre se os procedimentos foram feitos mediante autorização judicial.

A Justiça chegou a autorizar um pedido para realização deste tipo de procedimento. No entanto, não se sabe se o pedido partiu de uma das pessoas que morreram. De acordo com o hospital, a médica não estava na instituição quando a autorização foi concedida, e a equipe que estava presente optou por o tratamento regular

Na decisão, o juiz Luís Otávio Braga Schuch, da 1ª Vara Cível de Camaquã, determinou que a médica deverá assumir a responsabilidade pelo tratamento integral da paciente e que a mulher internada e seus familiares deverão assinar um termo de consentimento de que o tratamento em questão é experimental e não atende os protocolos clínicos atuais para o combate ao coronavírus.

Após esta primeira autorização, outro pedido chegou a ser negado pelo mesmo juiz que havia autorizado anteriormente.

  1. O que se sabe sobre a hidroxicloroquina?

Estudos feitos em várias partes do mundo desde o ano passado não comprovaram a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento contra a Covid-19.

Neste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que o medicamento não seja usado como prevenção da doença.

Além disso, chefes de UTIs ligam ‘kit Covid’ a maior risco de morte no Brasil.

  1. Esse tipo de procedimento é seguro?

Chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Gazzana explica que não há eficácia comprovada da hidroxicloroquina na forma oral nem via inalação. Ele lembra que há estudos em andamento sobre o uso com o nebulizador, mas sem resultados concluídos.

“Há dano potencialmente, sim. Quando a gente faz medicação inalatória, tem que ser adequada. Não apenas pegar um comprimido e botar no inalador”, comenta.

Com o pulmão já frágil, o paciente de Covid que receber nebulização inadequada pode desenvolver crises de asma, inflamação de vias aéreas e até evoluir para um quadro de insuficiência respiratória, explica o médico. “O potencial de dano é maior que o benefício”, conclui.

A Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia publicou uma nota, nesta quinta-feira (25), sobre “os riscos de condutas e procedimentos sem respaldo científico que têm sido realizados em pacientes com Covid-19”.

“Uma das práticas que tem se difundido, inclusive com apoio de políticos e formadores de opinião, é a inalação de comprimidos de cloroquina macerados e diluídos em soro fisiológico. Essa prática é certamente danosa ao já combalido sistema respiratório do paciente”, afirma um trecho da nota.

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