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quinta-feira, março 28, 2024

Séries de ficção em áudio revivem era das radionovelas

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Transmitida entre 1941 e 1943, “Em Busca da Felicidade” foi uma trama importada de Cuba, sobre um casal que tinha uma filha, fruto de uma relação extraconjugal

Séries de ficção em áudio revivem era das radionovelas
Foto Reprodução: © shutterstock / Noticia ao Minuto

“Senhoras e senhoritas, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro apresenta ‘Em Busca da Felicidade’, emocionante novela de Leandro Blanco.” Assim anunciava o locutor em cada episódio da primeira radionovela produzida no Brasil.

Transmitida entre 1941 e 1943, “Em Busca da Felicidade” foi uma trama importada de Cuba, sobre um casal que tinha uma filha, fruto de uma relação extraconjugal. Com altos índices de audiência, a radionovela pavimentou o caminho para o sucesso do gênero no país.

“A obra prendeu tanto a atenção feminina que a poderosa Rádio Nacional recebeu mais de um milhão de cartas enviadas de todos os cantos do país endereçadas aos produtores e intérpretes da trama”,diz Ricardo Medeiros, autor do livro “Dramas no Rádio”, em que fala sobre as radionovelas dos anos 1950 e 1960.

“Foi um gênero que atravessou décadas, transformando milhares de pessoas em ouvintes cativos. Os dramas emocionavam, levavam o público às lágrimas, à raiva, ao riso.”Até que vieram os televisores, ocupando o espaço antes dedicado às transmissões radiofônicas. A importância das radionovelas e também a do radioteatro, com tramas mais curtas, nunca foi apagada, mas esses formatos pareciam ter ficado mesmo no passado.

Quem diria, no entanto, que o algoz da própria televisão, o consumo de obras por streaming, seria responsável por uma espécie de ressurgimento das radionovelas e do radioteatro no país? Pelo menos é o que parece mostrar uma gama de novas produções sendo lançadas em serviços de conteúdo sob demanda.

Batizadas como audiosséries, audiodramas, audioteatros ou até mesmo como podcasts de ficção, essas novas produções não escondem as raízes nesse tipo de entretenimento do passado. E engana-se quem pensa que elas vieram apenas para engrossar um quase saturado mercado de podcasts: elas têm formato bem diferente, com sonoplastia, elenco, montagem e trilha sonora elaborados.

“Quem me lembrou dessa semelhança com as radionovelas foi a Gloria Perez, que na verdade disse que o que eu estava fazendo era um pouco de radioteatro”, diz o escritor Edney Silvestre, que publica uma trilogia de audiosséries em parceria com a Storytel, streaming com ênfase em audiolivros.

“Seria sensacional termos um movimento de volta das radionovelas. O que temos hoje no rádio é noticiário –a ficção ficou com a TV e o streaming–, então seria maravilhoso, principalmente em meio a tantas vozes boas que temos.”

O trio de produções lançadas por Silvestre é formado por “Casa Comigo”, “Sarah em São Paulo” e “O Brilho por Trás das Nuvens”, originalmente escritas para o teatro.

“Minha agência conhecia essas peças que eu tinha escrito e perguntou se eu toparia gravar em áudio e se eu mesmo poderia fazer a narração. Eu achei fantástico, porque foi uma maneira de deixar as peças vivas do lado de fora da gaveta ou do computador.”

Silvestre explica que “Sarah em São Paulo”, por exemplo, esteve próxima de ser encenada, há alguns anos. Mas, após um desentendimento entre atriz e diretor, ele engavetou a obra. Algo parecido aconteceu com “Casa Comigo”, que seria montada em São Paulo neste ano, pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, mas precisou ser adiada por causa da Covid-19. Uma produção deve acontecer em 2021.

O novo formato pode ser uma boa solução para redescobrir obras esquecidas, divulgar o que nunca teve apoio financeiro para chegar ao público ou, falando sobre o presente, justamente driblar as restrições impostas pela pandemia.

O autor torce para que essa espécie de radionovela contemporânea venha para ficar e cita como suas vantagens o custo baixo e seu amplo alcance. “Pode ser um belo caminho para a dramaturgia brasileira contemporânea”, diz.

A opinião é compartilhada por Jaqueline Vargas, criadora de “#tdvaificar…”, outra produção que remete à era do rádio e que deve estrear no mês que vem. “Eu acho que o fator financeiro sempre tem que ser levado em conta. Em uma novela ou série você move muito mais gente, há um investimento muito maior. Na audiossérie é mais simples”, afirma a roteirista das séries de TV “Sessão de Terapia” e “Rua Augusta”.

“Eu acho que é um formato que tem tudo para crescer, porque você pode contar histórias sem necessariamente ter um grande orçamento. Além disso, é algo fascinante esse hábito de ouvir, fechar os olhos e imaginar”, completa.

Ela diz que, por não ser da época das radionovelas, leu várias obras de Janet Clair, uma das principais autoras de folhetins de rádio e TV do país, para se habituar às particularidades dessas narrativas em áudio. Em “#tdvaificar…”, no entanto, ela se descolou do passado para contar uma história bem atual: a forma como o coronavírus tem impactado as pessoas, por meio de um drama que se desenrola em um futuro distópico e sem vacina.

Para Ricardo Medeiros, há espaço para que essas histórias faladas voltem a figurar como uma forma contemporânea de entretenimento. “As radionovelas têm potencial para estarem nas próprias emissoras de rádio. Basta que os temas sejam interessantes e em sintonia com os tempos atuais”, diz.

É isso que o Spotify buscou fazer. O gigante do streaming de música lançou, neste mês, o podcast de ficção científica “Sofia”, que fala da nossa relação com a tecnologia a partir de uma assistente virtual. Nomes conhecidos da televisão se renderam à nova moda, e o elenco da produção inclui Monica Iozzi, Cris Vianna, Otaviano Costa e Hugo Bonemer.

Iniciativas semelhantes vêm surgindo em outros lugares. O Teatro Oficina, por exemplo, tem publicado “peças radiofônicas” na internet. Como em um podcast, cada episódio traz uma narrativa diferente, uma espécie de leitura dramática das peças, mas aqui com trilha e efeitos sonoros.

Lá fora, a tendência foi impulsionada pelas restrições da pandemia. O dramaturgo inglês Alan Ayckbourn, por exemplo, aproveitou o momento para gravar uma peça jamais produzida. Nos Estados Unidos, Adam Greenfield, diretor do teatro off-Broadway Playwrights Horizons, encomendou uma série de peças em áudio para a internet.*OUÇA POR AÍ

Trilogia Edney Silvestre

A plataforma sueca Storytel, dedicada a audiolivros, lançou três peças do autor, narradas por ele mesmo: “Sarah em São Paulo”, “O Brilho por Trás das Nuvens” e “Casa Comigo”Sofia

Primeira áudio-série de ficção produzida pelo Spotify no Brasil, fala sobre uma assistente virtual e tem elenco formado por Monica Iozzi, Cris Vianna, Otaviano Costa e Hugo BonemerPytuna

Dubladores já consagrados se juntaram para criar essa ficção, que gira justamente em torno de uma rádio, criada para combater um governo totalitárioGilmar Baltazar, Detetive Particular

O Gshow lançou recentemente esta série investigativa, protagonizada por Fernando CarusoRádio Uzona

Paralisado pela pandemia, o Teatro Oficina tem publicado, nas principais plataformas de streaming, peças gravadas da casa dos atores#tdvaificar…

Jaqueline Vargas prepara para agosto uma série em áudio sobre a Covid-19, em que acompanha os moradores de um prédio em um futuro distópico e sem vacina para a doença

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