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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Vida e morte de um louco

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Foto Reprodução: Globo Esporte

Torcer é um ato de insanidade controlada. Senão, veja só as infinitas juras de amor nas canções, nas faixas e bandeiras. É comum jurar a própria vida e, às vezes, algo para além disso. Só que na maioria dos casos fica por aí. São promessas que nós jamais saberemos se algum dia se cumprirão. São as músicas que o vento leva no finalzinho do segundo tempo, quando os refletores já brilham.

Sempre existe uma exceção para confirmar a regra. Porque louco mesmo, louco de verdade, louco de prometer e depois cumprir só o Julio.

El Loco Julio.

De vida difícil, aos 12 anos de idade perdeu o avô, seu familiar mais próximo. Decidiu ir para as ruas, para a cidade de Mendoza. Lá, se virava como podia vivendo basicamente do que encontrava no lixo. Tinha dias que era algo que podia arrumar para depois vender, outras vezes achava alguma comida que lhe servia para forrar o estômago. Essa foi sua rotina até o dia em que um de seus amigos morreu atropelado por um caminhão.

Julio ficou muito mal, sofreu um ataque de nervos e precisou de cuidados especiais. No peito do menino de rua, o amor pelo Godoy Cruz era o único que acalmava.

Aos 15 anos, ele se surpreendeu quando a sorte, de quem só conhecia a outra cara metade, a amarga, lhe piscou um olho. Julio ganhou na loteria!

Loteria, loteria mesmo, dessas que pagam em moeda a aposta feita. Não cabia em si de felicidade. A polícia precisou acompanhar o menor quando ele foi buscar o prêmio. Nunca duvidou sobre o que faria com o dinheiro.

Entregou tudo, doou toda a premiação, deu toda a sorte que teve na vida, provavelmente também a única, ao clube de seus amores. Com a inesperada contribuição, o Godoy Cruz terminou as obras em seu estádio. Ergueu mais um setor de arquibancada e instalou os refletores. Louco? Louco é quem promete e depois não cumpre.

O passar dos anos cimentou seu lugar como referente na arquibancada. Viajou para todos os lados seguindo o time.

Não que tenha conseguido, mas há uns anos o clube decidiu retribuir todas essas horas, viagens e tempo em que Julio se dedicou sem pedir nada em troca. No estádio que ajudou a construir, ganhou uma estátua: o monumento al hincha. Tremenda lição. Para qualquer clube no mundo levar em consideração. Os jogadores vão e vêm, dirigentes entram e saem, mas torcedores não. Os torcedores são os que ficam, para sempre.

Em Mendoza, e ao lado do Godoy Cruz, viveu e foi feliz um louco de verdade. Que tinha um certo orgulho nessa vida: “Todas as torcidas gostam de mim”.

Morreu na última terça-feira (12/05) depois de passar um dia internado, vítima de uma saúde já cambaleante. E essa semana mesmo escutei uma frase que dizia algo do tipo “desconfie de qualquer pessoa com mais de 40 anos que chora por futebol”.

Julio tinha 80. E ainda chorava.

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