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quinta-feira, 9 de maio de 2024

Fotos: Veneza Marajoara, Afuá mostra como viver sem carros

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Conhecida como Veneza Marajoara, município paraense fica em área de várzea e cresceu em palafitas. Bicicletas e adaptações delas são veículos no local.

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Foto: Aislan de Paula / Fotos: Veneza Marajoara, Afuá mostra como viver sem carros

Afuá, cidade no arquipélago do Marajó, prova que é possível viver sem motos e carros. No local, chamado de “Veneza Marajoara”, bicicletas e adaptações dela são usadas no transporte de pessoas, a passeio ou em serviços.

A entrada de veículos automotivos é proibida por lei na cidade e assim surgiram as bicitáxis, bicilâncias e outras adaptações usando bicicletas. Para deixar a cidade, só de barco ou táxi aéreo.

“Hoje tem muita história para contar sobre meu invento”, afirma Sarito, morador de Afuá e criador da primeira bicitáxi.

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Algumas bicitáxis ganham nomes próprios, como “Bat Ferrari”, a união de duas bicicletas com aros e bancos que lembram traços do super-herói Batman, fazendo ainda alusão ao carro italiano de luxo.

Alguns moradores investem nas bicitáxis, incluindo lataria, que escondem os pedais, e assessórios como som e luz a partir do uso de bateria, aproximando a estética de seus veículos aos carros de verdade, mas sem deixar de lado o hábito dos moradores de Afuá: pedalar.

GALERIA:

Fotos: Aislan de Paula / Max Oliveira / Prefeitura de Afuá

A peculiaridade local foi foco de estudo. A pesquisadora Vanessa Simões procurou entender em sua dissertação os processos de criação e uso vividos com o bicitáxi a partir da experiência social em Afuá.

“O que mais me encanta nos bicitáxis é como eles constroem a identidade e a vida social da cidade, sendo constantemente reinventados para fins diversos. É o puro suco da inventividade e criatividade brasileira, que é infinita e muitas vezes nasce da carência de recursos, mas vai além dela”, afirma.

O município fica em área de várzea, próximo à foz do Rio Amazonas. Grande parte da cidade é suspensa em palafitas e as ciclovias estão sobre elas, em avenidas de madeira ou pavimentadas.

Em Afuá há bicitáxis que ganharam nomes de acordo com uso e serviço: a bicilância, por exemplo, é quase uma ambulância, mas os socorristas pedalam para transportar pacientes ao hospital da cidade – veja no vídeo acima.

Max Serrão de Oliveira, coordenador do Corpo de Bombeiros no município, é de outra região do Pará e está há 18 anos em Afuá. Ele se identificou com o modo de viver sob duas rodas.

“Uma cidade única, uma cidade de ar puro e alimentação saudável, além de ser um lugar muito bom pra se morar, por isso estou aqui até hoje”, diz o bombeiro.

Segundo ele, como na bicilância só há lugar para dois socorristas, quando necessário, os demais acompanham as ocorrências de bicicleta.

O serviço de coleta de lixo também precisou ser adaptado à realidade da região e é feito com carregadores produzidos com madeiras, sob duas rodas.

“Uma vez uma mulher quase que teve o filho no meu bicitáxi , fui levar para o hospital e quase não chego a tempo. Eu cheguei ‘aperreado’ lá, fui varando para dentro do hospital”.

“Outra vez meu próprio invento me deu medo, na frente de um cemitério: fui deixar uma senhora. Na volta, caiu um dos assessórios e veio batendo. Eu olhava pra trás e não via nada. De repente aquilo prendeu e me puxou. Um cidadão passou e me viu tremendo. Ele que viu o elástico que tinha caído e que tava batendo. Aquilo me meteu medo, foi um momento de terror”, relembra o criador sobre momento vividos pedalando sua bicitáxi.

‘Veneza do Marajó’

O acesso até o município de Afuá é por barco ou táxi aéreo.A cidade paraense fica distante 320 quilômetros de Belém. Com isso, a capital mais próxima é Macapá, no Amapá, distante 84 quilômetros, cerca de 4 horas de barco.

O contexto do nascimento da cidade de Afuá é explicado pelo professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Pará (PPHIST/UFPA), Agenor Sarraf:

“Como o Marajó é um grande arquipélago, é comum ter cidades que têm lugares feitos sobre madeiras, depois chão batido, depois asfalto. Mas Afuá se formou de maneira singular nessa cartografia física, inclusive com o conceito europeu de cidade, não por acaso intitulam como Veneza do Marajó”, detalha.

Nascido no Marajó e estudioso da região, Sarraf diz que a realidade de Afuá é consequência da necessidade do povo.

“Os moradores criam suas formas de vida a partir de suas necessidades e criatividade”.
Para Sarraf, Afuá reforça as possibilidades de mudanças do século XXI buscadas por grandes cidades para melhor qualidade de vida. “Me parece que as pessoas querem ter acesso aos bens e serviços da vida urbana, mas querem o sossego da vida rural”, diz

“É possível viver sem carros? Sim. Se não tivessem inventado o carro? Se tivessem só charretes? Só as bicicletas? Viveríamos só com isso. Tudo tem a ver com formação cultural e muitas cidades, grandes centros estão replanejando e recolocando bicicletas para controlar fluxo de carro, para dar acesso a espaços com mais segurança e porque é mais barato”, afirma.

Crédito: G1 Pará

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