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sábado, 4 de maio de 2024

A maior reforma em 60 anos

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a maior reforma em 60 anos
Foto Reprodução: Remo Casilli

Papa abre consulta para as bases da Igreja opinarem sobre temas como o celibato e a participação das mulheres. O resultado pode levar à maior mudança na instituição desde o Concílio Vaticano II

Fiel ao começo da sua prática pastoral em Buenos Aires, o papa Francisco propôs no domingo, 10, uma inédita consulta popular para a Igreja Católica, que vai durar dois anos e deve virar a marca do seu pontificado. As bases da Igreja vão opinar sobre temas que poderão mudar o rumo da própria instituição: o fim do celibato para padres, a participação da mulher nos rituais e o maior diálogo com outras religiões. Os resultados da consulta a 1,3 bilhão de fiéis serão apresentados no encerramento do 20º Sínodo dos Bispos em Roma, em 2023.

Nos últimos anos, o papado esteve sob ataque crescente de grupos conservadores dentro e fora da Igreja. Primeiro jesuíta a comandar a Santa Sé, tem enfrentado a resistência de clérigos poderosos e a burocracia. Suas investidas para punir de forma severa os crimes de pedofilia também criaram rusgas. Nos Estados Unidos, a oposição ao papado é articulada por Steve Bannon, guru da extrema direita americana, que tem influência em círculos católicos dos EUA e do Brasil. Ao combater a corrupção no Banco do Vaticano e acelerar a adequação da Igreja às normas financeiras europeias, o papa Francisco também passou a sofrer pressões de empresas que teriam usado o banco para lavar dinheiro. Neste contexto, a proposta de reforma é uma jogada política inteligente.

“É uma estratégia do papa para se fortalecer no próprio clero. Outro aspecto importante é que ele convidou todos os católicos, sem exceção, para debaterem as reformas nas paróquias. Isto tira o debate das redes sociais, marcadas pelo ódio”, observa Ítalo Santirocchi, professor de História na Universidade Federal do Maranhão e doutor em História Eclesiástica pela Universidade Gregoriana de Roma. Já dentro da Igreja, o chamado do papa é visto como democrático. “O poder na Igreja ficou muito monocrático. Francisco está desmontando a figura imperial do papado”, diz o padre Agenor Brighenti, professor de Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e único brasileiro na Comissão de 25 teólogos do Sínodo de 2023 – são cinco das Américas: Brasil, Argentina, Venezuela, Estados Unidos e Canadá. Cada continente tem cinco representantes trabalhando no Sínodo, que começou no dia 10 com a presença dos europeus no Vaticano, mas remotamente para os das Américas, por causa da pandemia.

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Mudança desafiadora

Brighenti explica que o Sínodo para a Amazônia, em 2019, trouxe essa nova estrutura. “No Sínodo amazônico, metade dos participantes eram mulheres, e muitas foram protagonistas das reuniões em Roma.” A consulta popular lançada agora prevê três etapas: até abril de 2022, as paróquias recolherão as sugestões dos fiéis. A partir daí, elas serão enviadas pelas 350 dioceses do Brasil à CNBB, que fará uma síntese do consenso e a enviará à Sede Episcopal das Américas. Em seguida, o documento seguirá para Roma, onde em outubro de 2023 o papa conduzirá o Sínodo. A palavra final sobre qualquer questão será do papa. “Ele é bastante ousado. Não se contentará com uma saída simples”, diz o padre Magno Fonzar, da paróquia de Nossa Senhora de Aparecida, em Itaquera, na Zona Leste da capital paulista.

“Não será um processo fácil, será uma consulta muito desafiadora para a Igreja. Ao abrir o debate para todos os cristãos, o papa resgata o próprio Concílio Vaticano II, mas sem a questão ideológica”, contextualiza Santirocchi. Entre as propostas que os leigos já levantaram, estão o fim do celibato para padres e freiras, a maior participação da mulher nos rituais e no trabalho administrativo da Igreja e o aumento do diálogo com outras religiões. “Francisco é o primeiro papa que não participou do Vaticano II, mas traz muito fortes os valores incorporados no Concílio”, afirma Filipe Domingues, vaticanista e doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Enquanto tenta reformar a Igreja, o papa luta contra a corrupção dentro do Estado do Vaticano. O cardeal Giovanni Becciu, acusado de corrupção no orçamento da Secretaria de Estado, foi afastado junto a outros 11 réus no final de 2020. Becciu é suspeito de usar 175 milhões de euros para comprar um imóvel em Londres. Francisco também o afastou e em alguns casos expulsou clérigos acusados de pedofilia, como o cardeal americano Theodore McCarrick. Ao lutar para reformar a Igreja a partir das bases, o papa tenta injetar um sopro de renovação em uma organização que, desde os anos 1980, se pautou pelo conservadorismo.

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