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quinta-feira, 16 de maio de 2024

Vida e morte: como amenizar a saudade e lidar com a dor da perda

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Vida e morte como amenizar a saudade e lidar com a dor da perda
Foto Reprodução: Uarlen Valério/O TEMPO

O escritor britânico C.S. Lewis (1898-1963) – autor de “As Crônicas de Nárnia” – disse, certa vez, que perder sua esposa Joy Davidman para o câncer em 1956 foi um dos piores momentos de sua vida.

“Sua ausência é como o céu, que se estende sobre tudo”, escreveu ele em “A Anatomia de Uma Dor”, livro publicado em 1961 e que hoje é considerado um clássico sobre as questões fundamentais da morte e fé em meio à perda.

Embora seja uma resposta emocional normal ao sofrimento, a dor do luto é uma das experiências mais difíceis que existem e pode desencadear uma variedade de sentimentos inesperados como culpa, ansiedade e tristeza.

Para muita gente essas emoções costumam voltar à tona durante as comemorações do Dia de Finados, feriado celebrado nesta terça-feira (2) em todo o Brasil.

Segundo especialistas, o processo de luto é sempre difícil porque lida diretamente com o nosso medo da morte – realidade que, além de inexorável, é comum a todos.

“O luto é um processo que envolve nosso corpo, nossa mente e nossas emoções, tendo como finalidade desfazer a dor que sentimos por toda e qualquer perda pela qual passamos”, diz Evaldo d’Assumpção, médico e tanatólogo (ciência que estuda a morte).

Ele explica que tanto a morte como o luto carregam muito estigma porque ainda são considerados tabu em muitas culturas.

“Para muitos, lidar com a perda de uma pessoa querida traz pesos sociais e rótulos negativos. A começar pelo fato de que a morte em si já é um grande tabu em nossa cultura”, aponta o médico. “É um tema complexo porque está relacionado a crenças pessoais e sociais enraizadas no dia a dia. Por exemplo, tem gente que acredita que falar sobre a morte ou até mesmo pensar nela irá atraí-la. Por isso acaba sendo um assunto sensível de se discutir”, analisa.

No entanto, o especialista informa que, ao contrário do que se supõe, o sofrimento do luto não está restrito somente à perda de um ente querido. “Não é um sentimento relacionado somente à morte, mas acontece em toda a situação em que sofremos uma perda na vida”, esclarece d’Assumpção. “Pode ser uma relação afetiva que termina, um negócio importante que não dá certo, um projeto que anelamos e que não se concretiza, tudo isso produz o luto”, realça.

Fases do luto

Evaldo d’Assumpção ressalta também que existem diferentes fases de luto e que o processo ocorre através de sintomas físicos e emocionais.

“Geralmente é um sentimento vivenciado em etapas. A primeira usualmente inicia-se quando há a certeza de que uma doença incurável está completando o seu ciclo. Ou, então, nas mortes súbitas, quando se tem a notícia de sua ocorrência. Costuma ser acompanhado de choro abundante, algumas atitudes físicas ou vocais de revolta”, aponta ele.

O médico explica que, além disso, é possível notar sensações emocionais inusitadas durante o luto, como dificuldade de concentração, confusão de raciocínio e perda de apetite e sono.

“Muitos podem cair em prostração ou em estado de desânimo, quase sempre provocado pela liberação de endorfinas, que são substâncias mais fortes do que a morfina, naturalmente liberadas pelos traumas”, menciona d’Assumpção, que diz ser preciso permitir que a pessoa enlutada sinta a dor e não a ignore durante o processo.

“Nesses momentos, não se deve desestimular o choro, impedindo a expressão de dor. Chorar nunca matou ninguém, mas a sua falta às vezes mata. O ideal é ajudar a pessoa a passar por esses processos naturalmente”, aconselha.

Rede de apoio

Apesar de não existirem fórmulas mágicas nem aconselhamentos que sejam 100% eficazes, o especialista enfatiza que é importante que haja uma espécie de rede de apoio para acolher e escutar o enlutado durante sua hora de dor.

“Muita gente não consegue superar seu luto sozinha, e por isso ajudas verdadeiras serão úteis. Vivemos numa realidade espaço-temporal onde absolutamente tudo e todos são impermanentes; desta forma, nem a dor do luto será para sempre”, afirma.

O médico argumenta que o sofrimento faz parte da experiência humana e, portanto, é essencial para nosso bem-estar.

“Alguns imaginam que superar o luto é esquecer a pessoa amada que partiu. Muito pelo contrário. Trabalhando corretamente o luto, chega-se a uma condição em que a saudade dolorosa se transforma numa ‘saudade gostosa’”, ameniza d’Assumpção.

“Seremos capazes de recordar a pessoa amada, conscientes de que, na verdade, não a perdemos, já que ela nunca nos pertenceu. Ela esteve junto de nós, sim, por um tempo que foi muito bom, mas agora retornou para aquele a quem realmente tudo pertence: o Criador de todos. E isso é algo reconfortante”, resume.

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