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domingo, 28 de abril de 2024

De Nova Odessa à Times Square: brasileiro realiza sonho de dirigir Uno 2002 até Nova York

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Foto Reprodução: Arquivo Pessoal/GQ Brasil)

Foi em uma cama de hospital, depois de sobreviver a um caso grave de apendicite em 2021, que Luiz Torelli decidiu que iria de carro até os Estados Unidos. Naquela época, ninguém acreditou que ele estava falando sério. Afinal, dirigir de Nova Odessa, cidade do interior de São Paulo, até Nova York com um Fiat Uno 2002 não parecia algo tão simples.

Diretamente da Rota 66 na altura do estado norte-americano de Illinois, o paulista de 38 anos conta ao telefone que as críticas e reprovações vindas de familiares serviram de combustível para o sonho de cair na estrada.

O projeto Um a Uno, batizado por ele, se transformou em algo além da viagem, e hoje é uma página nas redes sociais que soma 252 mil seguidores. É lá onde Luiz compartilha sua aventura como em um diário documental.

Cada placa, cada quilômetro, cada limite ultrapassado ganhou uma postagem. Já a chegada em Nova York mereceu um vídeo. “Disseram que eu não passaria nem do Paraná e eu falei: ‘Beleza, vocês vão me ver lá na Times Square'”, relembra ele em entrevista, que aconteceu exatamente uma semana antes da chegada à principal praça de Nova York.

Se engana quem pensa que Luiz e o seu Uno de 2002 apelidado carinhosamente de “Sandro” (em homenagem à avó) estão no destino final. O viajante pretende ainda passar em Boston, no estado do Massachusetts, e depois vai decidir os próximos passos. “Eu já rodei 18 mil km, o que é mais três mil?”, diz ele, que ainda mira à Califórnia e Flórida.

Há seis meses nessa aventura, Luiz afirma que, para ele, “500 km equivalem a 10 km. É pertinho”, brinca. “A gente se habitua com viagens de longa distância. Pra mim não existe mais fronteira, limite, não existe nada muito longe.”

Começo da história

Se tornar um “itinerante profissional” nunca esteve nos planos. A história começou em 2017 quando Luiz comprou o Uno da ex-sogra. “Eu tinha uma moto pequena, não estava querendo um carro”, conta ele.

A insistência da ex-esposa e a geneorisdade da ex-proprietária do carro fizeram com que Luiz cedesse. Ele comprou o automóvel pela metade do preço e desembolsou apenas R$ 5 mil reais na época. “No dia que eu comprei o veículo não sabia que ele ia mudar radicalmente a minha vida.”

Os indícios que as coisas estavam prestes a virar de cabeça para baixo começaram a aparecer nos anos seguintes. O divórcio e a insatisfação com o trabalho (ele era dono de empresa de acessórios para celulares) deram sequência ao ápice da tristeza: a perda da avó. “Essa passagem da história é muito importante porque eu a amava muito, foi ela quem me criou. Fiquei muito mal e entrei em depressão.”

Mas em 2020, em meio ao luto e a pandemia da Covid-19, Luiz começou a consumir vídeos de viajantes brasileiros de motorhome. Sem dinheiro para comprar o modelo, nasceu a ideia de transformar o Uno 2002 em sua casa sobre rodas.

“Peguei uma serra elétrica e furadeira emprestadas e fiz tábuas de MDF. Tirei todos os bancos e no final consegui transformar o espaço [com exceção do banco do motorista] em uma cama e um baú”, detalha.

Aos poucos, o projeto motorUno ganhou vida e o carro foi equipado com um mini refrigerador e um fogão de camping. Era apenas o início de uma grande aventura. As primeira viagens aconteceram no litoral de São Paulo: de Caraguá até Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

Pego desprevenido com o susto de saúde, uma inflamação no apêndice que quase o matou, Luiz fez uma promessa consigo mesmo: “Estava na beira da morte. Pensei: ‘Se eu sair dessa vou dirigir até os Estados Unidos’.”

Com sorte, a recuperação aconteceu rápido e a promessa de sair rumo à terra do Tio Sam também. O carro passou por melhorias com a ajuda de parceiros e pouco antes de Luiz dar partida à grande aventura, ele rifou um iPhone para contribuir com a renda. “Juntei R$ 4 mil e 19 mil seguidores no Instagram. Estava confiante de que a galera ia me ajudar e o projeto ia crescer, e foi o que aconteceu”.

Burocracias e perrengues

“É possível viajar em solo até lá?”, “Como será a volta?” e “O carro não quebrou?” são algumas das perguntas que ecoam quando escutamos a história de Um a Uno. E Luiz Torelli confessa que dentre elas, a volta é a dúvida mais solicitada – embora ele tenha gravado um vídeo explicando que vai pegar um avião e o carro irá voltar de navio, o que deve demorar dois meses para chegar no Brasil.

Retomando de uma a uma, Luiz conta que o carro passou por algumas manutenções durante o trajeto. A primeira delas aconteceu em Lima, no Peru. “Tive um problema com um dos parafusos que segura o motor, mas logo foi resolvido. Nenhum pneu furou, mas acabei trocando os quatro com a ajuda de uma empresa de lá”, explica.

No México, o Fiat Uno 2002 teve o alarme trocado e assim que chegou em território norte-americano ganhou uma nova vela e bomba de combustível. Foi isso até agora

A viagem terreste foi interrompida em um único trecho: da Colômbia para o Panamá. Ao chegar na divisa entre a América do Sul e Central, Luiz não se arriscou na selva de Darién, região conhecida por ser intransitável, perigosa e passagem por onde migrantes se arriscam. Ele colocou o Uno em um conteiner e pegou um avião.

“Dividi [o conteiner] com mais dois carros e uma moto. Eles foram colocados em um navio e passaram por um canal de 80 km. Ao todo foram gastos US$ 2 mil (cerca de R$ 10 mil)”, conta Luiz, que pontua o momento como o mais custoso da viagem.

Com a documentação em dia, incluindo passaporte, visto americano, carteira de vacinação e documentos originais do carro, Luiz enfrentou algumas burocracias. “A maioria pede um seguro para rodar com o veículo dentro do país. Você paga uma média de US$ 30 a US$ 50 na hora que chega na fronteira, e tem até 30 dias para transitar com o carro.”

Os maiores perrengues da viagem aconteceram na passagem pela Colômbia e na fronteira dos Estados Unidos. A primeira se deu por conta de uma situação complicada envolvendo narcotraficantes. “Fecharam uma estrada. Pensei que seria sequestrado. Me senti na série Narcos (produção da Netflix sobre Pablo Escobar).”

E a segunda foi ao entrar no Texas, estado norte-americano que faz fronteira com o México. Além de ter passado por um cansaço e ansiedade extremas, foi difícil comprovar que ele estava apenas de passagem. “Tive que provar com extratos bancários e depósitos. Eles estavam resistentes, falaram que eu podia ser deportado”, lembra.
Os dois lados da moeda

Em cada cidade, estado e país que passa, o brasileiro de 38 anos faz conexões e amizades com turistas, mochileiros ou locais. No entanto, o contato mais recorrente de Luiz com outras pessoas é através da tela do celular – e isso não supre totalmente a falta que faz o calor humano. “Às vezes bate a solidão. Tem isso. Viajar sozinho é bom de um lado e não tão bom de outro.”

Com o apoio financeiro de doadores e colaboradores, Luiz Torelli já rodou 18 mil km, mas o mais importante não é mensurável: o autoconhecimento. “Fiz para me conhecer, para saber quem eu sou e o que eu quero. Até então não sabia nada disso, fazia as coisas só pelos outros.”

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