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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Por que os carros são tão caros no Brasil?

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Por que os carros são tão caros no Brasil?
Foto Reprodução: GETTY IMAGES / Auto Esporte

Se você for como eu e tem um escorpião no bolso, já deve ter se perguntado por que algumas coisas são tão caras no Brasil. Do combustível ao seguro, o automóvel está entre uma das coisas que faz a conta bancária se contorcer em desespero. O fato faz com que muito cliente pergunte nesse momento: por que os carros são tão caros no Brasil?

São três principais pontos que fazem o veículo particular ser um item tão inacessível para a maioria dos brasileiros: altas cargas tributárias, alto custo de produção e o que se pode chamar de “gosto do freguês”.

Tô pagando!

A mentora em finanças pessoais e doutora em finanças comportamentais, Rosi Donadio explica que o “gosto” por pagar mais caro vem, na verdade, de uma falta de referência de um preço justo. Ela afirma que, como o Brasil nem sempre teve uma estabilidade econômica por longos períodos, o consumidor acaba não sabendo o que é “barato” e o que é “caro”.

“As pessoas se sujeitam a pagar caro por um carro porque elas estão acostumados que o carro sempre foi caro aqui no Brasil”, afirma ela. “Também se vê um comportamento de muita conformidade social. Em outras palavras, um efeito manada, em que as pessoas querem pertencer a um determinado grupo e, se ter carro é uma condição para pertencer a esse determinado grupo, é o que elas vão fazer”.

A cultura do veículo próprio reforça essa ideia de pertencimento a uma classe social, em especial no Brasil. Ela lembra que, na Europa, por exemplo, é comum encontrar figuras públicas, como políticos e artistas, no transporte público.

“Eu acho muito difícil o brasileiro dizer assim ‘ah, eu não vou mais andar de carro, não vou comprar carro, porque nos Estados Unidos o carro custa sei lá é o quantas vezes mais barato do que aqui no Brasil’, porque o grupo a que ele pertence tá aqui no Brasil”, conclui Rosi.

Taxação

Os impostos que incidem em um veículo são basicamente o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Os importados ainda recebem o Imposto de Importação (II).

Assim, um veículo saindo da fábrica pode ficar de 33% a 47% mais caro por causa desses impostos, como mostra um estudo de 2019 da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

“Basicamente” porque são cobrados diversos impostos na cadeia produtiva, como na matéria prima, mão de obra, equipamentos, espaço, etc. Isso encarece o custo da produção, gerando “imposto sobre imposto”, como explica o professor Antônio Jorge Martins, coordenador do MBA em Cadeia Automotiva da FGV.

Custo Brasil

Ele estuda a cadeia produtiva de diversas empresas nos mais diferentes países, coletando dados ao logo dos anos, e afirma: “Não existem dados formais dessas empresas que possibilite uma análise mais pormenorizada de causas específicas que levam a isso [o alto custo dos carros no Brasil]. De uma forma geral, são mais caros por causa dos impostos. O quanto essa carga contribui na elaboração do preço, ninguém sabe exatamente”.

Dos estudos que mais englobam o Brasil em relação ao mercado mundial, um deles aponta que um veículo no Brasil chega a custar de 5% a 8% a mais do que em qualquer outro país.

“Isso se deve, do ponto de vista da empresa, a uma não estabilidade do mercado brasileiro”, afirma o professor. De uma forma geral, a lógica utilizada pela montadora é de manter os preços “altos” nos momentos de aquecimento da economia para suportar os períodos em baixa e não ter perdas significativas.

Além disso, o custo operacional no país é muito elevado. “Em um país continental como o Brasil, 70% do transporte ser feito por estradas encarece muito o frete rodoviário”, afirma ele.

Comparativo: México e Brasil

Dois países em desenvolvimento despontam entre os dez grandes produtores de automóveis do mundo: Brasil (8º) e México (6º). Com características demográficas parecidas, o México ganha vantagem por uma série de fatores.

Em primeiro lugar, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) faz o México dispor de um grande mercado consumidor dos EUA. Além disso, o único imposto incidente na produção mexicana é o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), de 16%. Um carro saindo da linha de montagem acaba sendo 18% mais barato do que um feito no Braisil.

Levando em consideração custos de produção, impostos e logística, um veículo produzido no México acaba sendo 12% mais vantajoso quanto um produzido no Brasil. Se o carro brasileiro for vendido no mercado mexicano, essa diferença sobe para 24%.

Margens de lucro

As empresas, por uma questão estratégica, não divulgam suas margens de lucro. Esse número varia constantemente, levando em conta o momento da produção, consumo, alta ou baixa do dólar, taxa de juros, etc. Às vezes, as empresas chegam a fazer operações com lucro negativo, o que exclui em alguns casos o “grande lucro das montadoras” da lista de possíveis vilões do alto preço.

A tributação é feita em cima de um preço já baseado em uma margem de lucro. “A lógica da empresa é: formo um preço, estabeleço minha margem de lucro e aí joga a carga tributária em cima. Onde ela tem flexibilidade? Se ela quer ter volume de mercado, ela tem que sacrificar lucro, muitas vezes”, afirma Antônio Jorge.

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